Ontem...

Eu estava há muito tempo querendo ler o sétimo livro do Harry Potter. Ontem uma amiga da faculdade levou para eu ler, e ao chegar em casa, tinha o mesmo livro me esperando em cima de uma mesinha no meu quarto... Um outro amigo meu tinha deixado o livro com a minha irmã para ela me entregar. Quer dizer, generalizando, um dia nós não temos nada, e no outro as coisas acontecem, às vezes de um modo tão inesperado que chega a sufocar...
Eu tinha saído mais cedo da faculdade, o motivo eu conto depois... Abri o livro no ônibus e comecei a ler. Logo nas primeiras páginas havia uma citação de ‘More fruits of solitude’.

“A morte é apenas uma travessia do mundo, tal como os amigos que atravessam o mar e permanecem vivos uns nos outros. Porque sentem necessidade de estar presente, para amar e viver o que é onipresente. Nesse espelho divino vêem-se face a face; e sua conversa é livre e pura. Este é o consolo dos amigos e embora se diga que morrem, sua amizade e convívio estão, no melhor sentido, sempre presentes, porque são imortais”.

Essa citação tinha uma certa ligação com o que tinha acabado de acontecer.
Naquela tarde, um colega de sala sofreu um acidente de moto e morreu. Quando soube do acidente, eu custei a acreditar. Como é que uma pessoa que eu tinha visto há dois dias atrás sorrindo e achando uma droga assistir aula no sábado poderia estar morta? O pessoal ficou sem cabeça pra assistir aula e o professor liberou a sala. Vi algumas pessoas chorando quando atravessei o corredor, provavelmente pessoas que tiveram um contato maior com o menino. Então eu percebi que mesmo com pouco tempo de convivência, nós já tínhamos feito um laço de amizade que provavelmente sentiríamos falta no futuro.

Ele costumava sentar perto de mim, às vezes quando eu chegava cedo na aula, ele já estava na sala, mas nós nunca tivemos muito contato. Talvez eu tenha falado com ele umas três ou quatro vezes, mas nada além disso. Então eu me perguntei porque as pessoas não costumam valorizar os outros quando eles estão por perto? Por que, na maioria das vezes, nós damos valor ao que não temos, e só damos conta do valor das pessoas quando elas vão?
Quantas vezes mais nós teremos que perder, para darmos valor ao que está em nossa volta?
Essas são perguntas que não possuem respostas, eu pelo menos não consigo responder. O ser humano é imperfeito, cheio de defeitinhos que com um tempo são superados e nos fazem mais maduros. Cabe a nós lutarmos para que a vida não seja em vão, e para que não haja arrependimentos quando tivermos que ir.

Pela primeira vez eu resolvi não corrigir os erros do meu texto... Achei melhor porque deste modo eu não mudaria em nada todos os meus pensamentos que eu coloquei para fora. Para mim, isso serve como uma homenagem a todos aqueles que eu conheci e que não estão mais entre nós.